27) “O Espírito Santo é muito sensível!”
De onde surgiu essa ideia de que o Espírito Santo é um Deus
sensível e melindroso, que deve ser tratado com muita delicadeza se não Ele se
ofende? Que fala tão baixo que é preciso ter muita atenção para escutar?
Talvez da dificuldade de definir e entender o Espírito
Santo? Talvez porque o apóstolo ensinou a não extinguir o Espírito (como se
fosse uma chama) ou a não entristecer o Espírito? Quem sabe, ainda, o fato de
que não há perdão para pecados cometidos contra o Espírito Santo?
Bem de acordo com nossa fé trinitária, o Espírito Santo é
Deus e tudo que o Pai é, o Filho é e o Espírito Santo também é igualmente.
– Ora, Deus é Todo-Poderoso, Todo-Amoroso, Soberano, Justo e
Infinito.
– O Espírito Santo é Deus.
– Logo, o Espírito Santo é Todo-Poderoso, Todo-Amoroso,
Soberano, Justo e Infinito. Então, tudo que entristece o Espírito Santo,
entristece a Deus e tudo que apaga o Espírito Santo, também apaga a presença de
Cristo!
Na teologia do Novo Testamento, o Espírito é o poder de Deus
que cria e renova tudo e todos.
Pergunta que não quer calar: um Deus Todo-Poderoso, tão
poderoso que se permite apagar e resistir pelo coração humano é sensível?
28) “Aceitar Jesus”
Outro paleo-logismo… mas também inexistente nos Evangelhos e
na tradição da igreja…. Portanto, é “neo”. Os apóstolos nunca usaram a
expressão “aceitar Jesus”, mas falaram apenas em crer e seguir Jesus.
Mesmo assim, talvez a palavra “aceitar” seja “aceitável”…
rsrsrsrs, desde que bem entendida, porque se trata de uma “pessoa” aceitando
outra “pessoa” e não uma “coisa”. E aceitar “pessoa” envolve compromisso!
O paralelo mais próximo poderia ser aquele da cerimônia de
casamento onde ocorre a aceitação mútua entre os cônjuges para firmar um
compromisso:
— “Fulano, você ‘aceita’ a fulana como sua legítima esposa
até que a morte os separe?” e “Fulana, você ‘aceita’ o fulano como seu legítimo
esposo até que a morte os separe?” “Então eu os declaro marido e mulher”.
Aceitação é reconhecer o compromisso de fidelidade eterna.
Se for assim, o ato de “aceitar a Jesus” como Senhor e Salvador poderia ser
colocado assim:
— “Jesus, você ‘aceita’ o fulano(a) como seu legítimo
discípulo e amigo até que a morte… ops… até eternamente?” A resposta de Jesus
já foi dada previamente há dois mil anos, mas pacientemente, ele responde:
“Sim, aceito do profundo do meu eterno coração!”
Então, “Fulano(a), você ‘aceita’ Jesus como seu legítimo
Senhor e Salvador até que a morte os separe?” ops… nesse caso “até que ‘por
toda eternidade’, nessa vida e na próxima?” Se a resposta for “sim, aceito de
todo o meu coração”, então se dirá: “Eu lhe declaro discípulo e amigo de Cristo
para sempre”.
Pergunta que não quer calar: Gostaria de aceitar Jesus como
seu Amigo pessoal para sempre?
29) “O sangue de Jesus tem poder!” “Cobrir com o sangue de
Jesus”
Essa expressão está mais para um paleo-logismo do que
neo-logismo…. Então por que incluí-la entre os neologismos? Pela mesma razão
das anteriores: ela não consta em nenhum lugar das Escrituras e muito menos
poderia ser aplicada como é no neo-dialeto religioso: para exorcismo!
É claro que o “sangue” de Jesus tem “poder” (eficácia), mas
para perdoar pecados! Embora seja surpreendente para as pessoas não cristãs,
essa é uma afirmação central para a fé cristã. O sangue é símbolo da vida,
nesse caso a vida inocente de Jesus que foi oferecida a Deus voluntariamente em
substituição da humanidade. Significa dizer: Jesus entregou sua vida para que a
humanidade pudesse viver plenamente, para que ninguém mais precisasse morrer.
Pergunta que não quer calar: Você acredita em sangue como
amuleto mágico? Ou entende o significado da morte e ressurreição de Jesus?
30) “Você já tem uma célula?” “Sua igreja tem célula?”
Calma! Eu também participo de célula na igreja! Mesmo assim,
por mais popular que seja nas igrejas modernas, a tal da “célula” não deixa de
ser um neologismo, porque, afinal, a Bíblia não fala nada sobre “célula”.
O que é uma “célula”? Originalmente “célula” é diminutivo de
“cela” (‘cela’+’ula’), cela de prisão ou de monastério. “Cela” vem do latim
“celare” (esconder, ocultar). Talvez a ideia original tenha vindo do favo, onde
cada favo seja uma “célula”. No sentido biológico, designa as menores
partículas do tecido orgânico. A palavra “célula” também é usada para designar
pequenos grupos, como, quando se diz na mídia “célula terrorista”.
E essa é a acepção de pequeno grupo que foi apropriada pela
neo-linguagem religiosa: “célula” é um pequeno grupo de cristãos que se reúne
para vivenciar sua fé. É um neo-logismo para uma prática “primitiva” dos
primeiros cristãos. Aliás, o Novo Testamento só conhece a igreja das pequeninas
comunidades (“célula”?) e não a dos templos. Na história recente da igreja, a
“célula” já foi chamada de “grupo familiar”, “grupo caseiro”, “culto
doméstico”, “ponto de pregação”, “culto de ação de graças”.
Mas há uma novidade: o que hoje se chama “célula” marca uma
tendência mundial dos cristãos no sentido de priorizar a reunião mais íntima,
com menos pessoas, porque favorece a partilha, a comunhão, a edificação e o
cuidado mútuo.
Sim, a Bíblia não fala em “célula”, mas contém dezenas de
mandamentos de mutualidade e reciprocidade, aqueles com a estrutura “uns aos
outros” que são melhor vivenciados nas pequenas comunidades!
Ufa, finalmente, achei um bom neologismo!
31) “Orar em quarta dimensão!”
Na linguagem da ciência, a expressão “quarta dimensão” já é
usada desde o século XIX, como uma dimensão temporal ou espacial, além das três
dimensões físicas. De lá para cá, o conceito influenciou diversos campos de
conhecimento como artes plásticas, literatura, cinema, etc, mas continua sendo
mais especulação do que ciência.
O conceito é bem conhecido nas religiões orientais, no
espiritismo, na astrologia, e outras práticas esotéricas e místicas.
Pois a neo-linguagem cristã incorporou a “quarta dimensão”,
a partir do encontro de cristãos orientais com religiões nativas orientais.
Quem melhor formulou esse sincretismo foi o famoso Pr. Paul Yong-Cho, da Coreia
do Sul. Seus livros se tornaram a ponte pela qual a “quarta dimensão” entrou na
neo-linguagem cristã… e, infelizmente, se tornou a “mãe” de muitos neologismos…
Segundo essa neo-teologia, a “quarta dimensão” é a dimensão
do espírito. Como as pessoas são feitas de matéria e espírito, é necessário se
conectar à dimensão do espírito a fim de controlar o plano físico. Tudo que é
visualizado (incubado) no campo do espírito é criado no campo físico.
Gozado, o Evangelho não fala nada de pessoas invadindo a tal
dimensão do espírito. Pelo contrário, fala do espiritual invadindo o mundo
“tridimensional”. Também não fala nada sobre controlar o mundo físico, mas de
controlar seu próprio espírito (coração) e as inclinações inatas para o mal.
Perguntas?… sem perguntas…
32) “Você tem um chamado?” “Ministério é para quem tem
chamado!”
Bem, começando do começo: “chamado” é o particípio do verbo
“chamar” que vem do latim e significa o mesmo que “clamar” (mudou o ‘h’ pelo
‘l’), no caso, “chamar pessoas pelo nome e para algum objetivo”. Se “chamado”
está no “passivo”, então tem de haver um “ativo”: um Chamador. Sem chamador não
há chamada, nem chamado! Todo mundo sabe o que é chamada: “Fulano?” Resposta:
“Presente!”
No vocabulário do Novo Testamento, a palavra “chamar” é
muito importante. Os Evangelhos narram diversos casos de Jesus chamando
pessoas: “Segue-me”. A resposta adequada para “chamado” é “seguir” (como
discípulo).
No grego, “chamar” é “kaleo”, que pode aparecer traduzido
como “convidar” ou convocar (“vocação”). Esse radical (kaleo) está presente no
nome do Espírito Santo (Para+kaleo, “Paráclito”) e na palavra grega para igreja
(ek+kaleo, “ekklesia”). Temos, portanto, um “Chamador” — o Cristo; a reunião
dos que atendem o “chamado” — a igreja; e aquele que preserva os “chamados”,
que está ao lado deles — o Espírito Santo.
Conclusão necessária: Há uma universalidade de chamado
(“todos são chamados”) e uma diversidade de chamados (chamados para o quê?). Ou
é chamado ou não é de Cristo!
Perguntas que não se calam: Se todos os cristãos são
chamados, por que (des-)classificar entre chamados e
33) “Perdoar a si mesmo!”
Esse neologismo também povoa as terapias de libertação
espiritual!
Mas, vamos lá:
Perdão pressupõe ofensa.
Ofensa pressupõe direito.
Direito pressupõe lei.
E lei pressupõe autoridade.
Assim, para perdoar a mim mesmo eu teria de ser o autor da
minha própria lei, uma lei que garantisse meus direitos. Nesse caso, ao
eventualmente quebrar minha lei, ofendendo a mim mesmo, teria, então, a
hipotética prerrogativa de me perdoar… O que é um absurdo, porque não é possível
ocupar a posição de legislador e legislado, de ofensor e ofendido ao mesmo
tempo.
Se regesse minha própria consciência (lei natural), não
teria conflito. Se tivesse conflito, me perdoaria. Se me perdoasse
efetivamente, teria paz na consciência todo dia.
O fato é que, antes de ofender a mim mesmo, de fato, eu
obrigatoriamente ofendi a autoridade da lei maior que rege a vida humana, da
qual, obviamente, não sou o autor.
Perguntas que não se calam: “perdoar a si mesmo” não é meio
arrogante? Não seria melhor corrigir essa frase dizendo “aceitei o perdão do
Outro”, ou seja, de Deus? Não é o perdão exatamente a neo-logos do Evangelho?
34) “Perdoar a Deus!”
Esse neo-logismo foi criado pelos “ministérios” de cura
interior…
Literalmente “perdoar” significa ‘per’ (tudo) + ‘doar’
(dar), ou seja, “perder tudo”. O perdão pode ser definido como a decisão de
“deixar de exigir reparação pelo mal que alguém lhe causou”!
Ora, Deus não é tentado pelo mal, portanto não pratica o
mal. Logo, não pode ser o autor nem a causa do mal na vida de ninguém e,
portanto, não pode nem precisa ser perdoado. Pelo contrário, os seres humanos,
por causa das suas fragilidades e imperfeições, é que devem perdoar e pedir
perdão uns aos outros.
Todavia, no jargão das terapias religiosas, como “cura
interior”, “libertação”, “regressão” e coisas assim, o ser humano é tão
endeusado a ponto de perdoar o próprio Deus!
Perguntas que não se calam:
Perdoar a Deus não implica em lhe atribuir falta/defeito?
Um Deus que padece de faltas ainda é um Deus?
Não seria melhor resolver nossas diferenças com o nosso
próximo e deixar Deus ser Deus?
35) “Canal de bênçãos”, “canal não sei do quê”…
“Canal” vem de
“cano”, que vem de “cana”, talvez por causa da semelhança física entre a cana e
o cano… rsrsrsrs… “Canal” e “cano” tem o mesmo sentido: duto pelo qual passa
alguma coisa, como líquidos, gases, etc. Também é usado no sentido no sentido
figurado para transmitir coisas como sinal de TV e rádio, etc. Bem, mas isso
todo mundo entende.
E no ambiente religioso? “Canal” seria o meio pelo qual a
divindade se manifesta ou flui? Bem, nesse sentido a palavra “canal” já é
usada, há muito tempo, pelo espiritismo como “channeling”, ou seja, a pessoa
que serve de canal (médio, ‘medium’) para manifestação dos espíritos.
Mas no cristianismo, a expressão “canal” não é adequada,
porque não existe a ideia de um Deus (ou espírito ou energia ou fé) que flui
por um canal humano. O que há é um Deus que “habita” no coração dos seus
filhos.
Pergunta que não quer calar: Em vez de pensar num Deus que
apenas “escorre” pelo canal da sua vida, que tal deixar Deus fazer morada em
seu coração?
36) “Fulano foi usado como ‘instrumento’ de Deus na minha
vida!”
Já falei sobre a inadequação do verbo “usar” quando se
refere a “pessoas”. Mas a expressão pode aparecer com um “objeto direito” em
casos figurados quando a “pessoa” é representada por um “instrumento”, como,
p.ex., na frase acima… Bem, p’ra começo de conversa, na Bíblia, a palavra
“instrumento” aparece apenas no sentido literal, como artefato musical ou como
ferramenta (etc.). Sim, é verdade que a Bíblia usa figuras para falar de
pessoas, como “vaso”, “vara”, “bacia”, “barro”, etc.
Mas para entender essas expressões, é necessário ter uma
noção mínima de figura de linguagem. Na frase acima, “pessoa” está sendo
comparada a “instrumento” para destacar alguns traços em comum, mas não todos,
pois o uso de figura impõe limites…
Por exemplo, alguns traços comparativos destacam o fato de
que Deus age indiretamente, “por meio” de uma pessoa, assim como alguém realiza
um trabalho “por meio” de uma ferramenta. E também há traços que não servem de
comparação como o fato de que o instrumento é passivo, e a pessoa não!
No sentido denotativo, é impossível “usar” uma pessoa, a não
ser com dolo, subterfúgios e chantagem! Por isso, todo cuidado é pouco. Objetos
são usados, pessoas não!
Pergunta que não quer calar: em vez de ficar esperando que Deus
o use passivamente como um “objeto”, que tal entregar-se a Deus de todo
coração, pró-ativa e intencionalmente, para cooperar com Ele na vida do
próximo?
37) Sobre clérigos e leigos.
“Clero” e “leigo” são
conceitos religiosos já consolidados há séculos… quase paleo-logismos, mas
ainda assim são “neologismos”, porque não existem nas palavras de Jesus e nem
nas demais Escrituras.
Já vimos sobre o significado de “leigo”. E “clero”? Bem,
“clero” vem de “kleros”, palavra grega que aparece umas dez vezes no Novo
Testamento original, mas nenhuma delas traduzida como “clero”. A palavra é
traduzida como “sorte”, “parte”, “herança”.
A propósito, a única vez no NT em que a palavra “kleros”
aparece em contexto de eclesial, ela se refere ao povo e não aos líderes! Ali,
Pedro diz que os bispos devem cuidar bem do “kleros”, ou seja, dos irmãos que
foram lhes foram confiados (1 Pedro 5.3).
Apenas séculos depois, a palavra passou a ser usada para se
referir aos homens ordenados para o serviço religioso. Aparentemente, isso se
deu com base na Lei de Moisés que atribuiu o sacerdócio aos levitas como uma
herança (Dt 18.2), portanto um “kleros”.
Segundo os primeiros cristãos, Jesus transformou aqueles que
não eram povo em “povo de Deus” e em “sacerdócio real” e “nação santa”. Assim,
unificou “sacerdote” e “povo”, “clero” e “leigo” e criou algo inteiramente
novo, inédito: uma família de Deus.
Pergunta que não quer calar: ah, deu pra entender ou precisa
desenhar? Kkkkkk
38) “Fulano é leigo” ou “os leigos da igreja”.
“Leigo” vem de
“laikos”, que vem de “laós”, palavra grega que significa simplesmente “povo”. A
Bíblia contém dezenas de vezes a palavra “laós”, porém, nenhuma delas traduzida
como “leigo”, mas sempre como “povo”. Em relação à igreja, a Bíblia usa a bela
expressão “lao toû theoû”, que quer dizer “povo de Deus”, um verdadeiro
milagre! Pois como um Deus e pessoas humanas podem ser um só povo??? Os
apóstolos disseram: “Antes vocês não eram povo de Deus, mas agora, em Cristo,
são o povo e família de Deus” (cf. 1Pedro 2.9).
Apenas muitos séculos depois de Cristo, a palavra “leigo”
passou a significar o povo comum em relação ao povo não comum — o “clero”. Ou
seja, só existe “leigo” porque existe “clero”.
Na verdade, os protestantes não falam muito em “clero”, mas
como conservaram o neologismo “leigo”, pressupõem que haja um “clero”.
Pergunta que não quer calar: Se Jesus deu a vida para criar
um só povo, por que criar divisões? Por que aceitar divisões, classificações,
escalões?
39) Dos apóstolos e apóstolas...
De fato, a palavra “apóstolo” é antiga, mas seu uso atual é
um verdadeiro “neo-logismo”. “Apóstolo” vem do verbo grego “apostello” que
significa simplesmente ‘enviar’. Literalmente, portanto, “apóstolo” significa o
que hoje chamamos de “missionário”, ou seja, “alguém enviado com uma missão”.
Mais do que título, “apóstolo” é missão.
Mas na neo-linguagem religiosa, o título de “apóstolo” foi
reinventado para indicar alguém que ocupa o topo da pirâmide do poder eclesial,
talvez porque os títulos comuns não comportassem mais a sede de poder.
Gozado, os primeiros discípulos de Jesus foram chamados
apóstolos para exercer uma função muito diferente. Paulo disse que eles foram
colocados por último e por baixo de todos, como loucos, fracos, vis, sujeitos a
fome e sede, agressões e risco de vida, como verdadeiro “lixo do mundo” (1Co
4.9-10).
Pergunta que não quer calar: Foi para isso que Lutero
quebrou a hegemonia do papa católico? Para que seus herdeiros fizessem brotar
‘trocentos “mini-papas”? Para recriarem seus próprios ‘vaticanos’? Ou para
recolocar os cristãos no trabalho missionário (apostello) de Cristo?
40) “Orai por Jerusalém” ou “Orai pela paz de Jerusalém!”
A frase é velha, mas o uso é “neo”. Ela consta no Salmo 122,
um dos salmos de peregrinação dos judeus a Jerusalém, também usado na liturgia
do templo. Essa preocupação com a cidade santa aparece também nos profetas. Jerusalém
era o centro da religião e o lugar da habitação de Deus. Para o judeu, ir a
Jerusalém era o grande momento da vida. Se Jerusalém estava em paz, tudo estava
bem.
Mas, atualmente, a frase passou a integrar a neo-linguagem
religiosa como se todos os cristãos devessem orar pela paz da cidade de
Jerusalém, aquela dividida entre israelenses e palestinos, do moderno Estado de
Israel!
Ora, os apóstolos ensinaram que devemos orar pelas
autoridades de onde vivemos para que tenhamos vida boa e tranquila. A velha
frase precisa ser atualizada. Assim o antigo “orai pela paz de Jerusalém” deve
ser substituído por “orai pela paz de Curitiba” ou “orai por Brasília” e por aí
vai…
Pergunta que não quer calar: Posso continuar orando pela paz
da minha cidade e do meu bairro ou tenho mesmo de orar por um lugar que não tem
nada a ver com minha vida nem com minha fé?
41) “Fulano é levita na casa de Deus!”
Ora, “levita” não tem nada a ver com “levitar” ou “ser
leve”, como pode parecer… Trata-se de um adjetivo pátrio, referente aos
descendentes de Levi, um dos filhos do patriarca Jacó, neto de Abraão. Quando
os judeus conquistaram a Palestina, os levitas não receberam terras como as
outras tribos, mas foram designados para todos os serviços religiosos. Depois
da construção do templo, os levitas passaram a ser porteiros, guardas,
padeiros, cantores, músicos ou ajudantes gerais dos sacerdotes. Com a
destruição do templo dos judeus, acabou-se o serviço dos levitas.
Mas o neologismo religioso ressuscitou a figura do “levita”
para designar as pessoas que atuam no serviço da música na igreja.
Gozado, segundo o Novo Testamento, todo seguidor de Cristo é
um sacerdote… o que os protestantes chamam de “sacerdócio universal” dos
cristãos.
Pergunta que não quer calar:
Se Cristo instituiu todo discípulo como “sacerdote”, por que
“rebaixar” alguns a “levita”? Não dá para ser apenas “músico” e parar de
inventar moda?
42) A figura pastor-ovelha
“Pastor é pastor!
Ovelha é ovelha!”
Ora, os termos “pastor” e “ovelha” nada mais são que uma
“figura” emprestada da ovinocultura tão comum no sul da Palestina nos dias de
Jesus.
E quando se usa uma figura de linguagem, nem todos os
aspectos são relevantes ou aplicáveis. No caso presente, estão certamente em
destaque “cuidado”, “orientação” e “alimentação”, mas não estão em destaque,
por exemplo, o comércio de lã e dos próprios animais, a engorda e o abate de
ovelhas, muito menos o uso delas para sacrifícios.
Mas, na neo-linguagem religiosa, “pastor” passou a
representar um título hierarquicamente superior aos demais fieis, como se ele
tivesse a mesma superioridade que o pastor-literal tem sobre as
ovelhas-literais, e como se ele pudesse dispor das pessoas da comunidade como o
pastor-literal pode dispor das suas ovelhas-literais.
Pergunta que não calar:
Você sabe interpretar uma figura de linguagem? Ou — cá p’ra
nós — é tão tolo e indefeso como uma ovelha literal?
43) “Cuidado com as retaliações (ou retalhações?) do diabo!”
Antes, porém, é necessário fazer uma ressalva: não confunda
“retaliar” com “retalhar”. Retalhar é “re”+”talhar”, de “talho”, que significa
“dividir em partes usando um instrumento de cortar”, como em “retalhos”, p.ex.
Já a palavra “retaliar” vem de “re”+”taliar”, de “talião”, em referência à “lei
do talião” (de “talis”, tal), ou seja, aplicar castigo “tal e qual” o crime:
“Olho por olho e dente por dente”.
Na neo-linguagem religiosa, é o sentido de “retaliar” que
foi ressignificado para dizer que os espíritos maus retaliam (revidam) qualquer
cristão que decide obedecer a Cristo. Por causa disso, há pessoas que não
querem mais se envolver no serviço cristão por medo de represálias ( =
“retaliações”).
A Bíblia não fala nada sobre temer “retaliação” ou
“represália”. Pelo contrário, o Evangelho, Cristo disse: “Assim como o Pai me
enviou, eu também os envio. Eu os envio como ovelhas no meio de lobos. Estarei
sempre com vocês. Vocês terão autoridade sobre todo poder do mal e ninguém lhes
causará dano” e outras palavras assim… Além disso, todo aquele que seguir a
Cristo correrá permanente perigo de ter o mesmo destino do seu mestre. “Quem
não é por mim, é contra mim”, disse Jesus.
Ordem de Cristo que não quer calar: “Eu tenho toda
autoridade nos céus e na terra. Eu estou com vocês todos os dias até o fim!
Portanto, vão!”
by Eliseu Pereira
Professor na Faculdade Batista do Paraná e na Faculdade
Cristã de Curitiba
Estudou Teologia na instituição de ensino PUC PR
https://www.facebook.com/eliseugp
http://tele-fe.com/portal/category/serie-neologismos-religiosos
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