12.29.2015

NEOLOGISMOS DO MEIO GOSPEL (MAIS APONTAMENTOS)

57) “Dar legalidade ao demo!”

Neologismo puro! A Bíblia não fala nada sobre “legalidade”! Essa palavra nem existe no cânon! Isso já seria motivo suficiente para abandonar o modismo, mas vamos lá: “legalidade” vem do latim “legis”, que é “lei”, que todo mundo sabe o que é. “Legalidade” pressupõe “juridicidade”, ou seja, uma “jurisdição (região) governada por uma lei”. A Bíblia fala em “lei”, em lei dos homens e lei de Deus, mas a principal lei referida nas Escrituras é a “lei de Deus”.

A lei de Deus se resume no amor. Amor a Deus e ao próximo. Por exemplo, “pecado” é quebrar a lei de Deus, ou seja, faltar com o amor. Santidade é andar de acordo com a lei de Deus, ou seja, amar a Deus e o próximo.

Bem, mas não é isso que o neologismo quer dizer. A tal da “legalidade” pressupõe um mundo abstrato no qual habitam, em igualdade de direitos, espíritos bons e maus e, acima deles, Deus e o Demo! Nesse “dualismo” legal (no sentido de “lei”, bem entendido!), as pessoas devem escolher à qual lei elas se submetem: à lei de Deus ou à lei do Demo.

Se elas seguirem a lei de Deus, o Demo não pode exigir obediência, ou seja, não tem jurisdição sobre elas. Mas se as pessoas seguirem a lei do Demo, aí então Deus não pode fazer nada, porque a pessoa aderiu à outra “legalidade”. Isso tá mais para misticismo, tipo ‘yin e yang’, do que para teologia cristã!

Ora, a Bíblia não fala nada sobre isso. Segundo o texto sagrado, há apenas uma lei, uma legalidade, uma jurisdição — isto mesmo: a de Deus! Seguir a lei de Deus, a lei do amor, é viver. Não seguir a lei de Deus, é morrer. Morrer em vida! Morrer antes de morrer! E, finalmente, morrer mesmo! É disso que se trata e não de legalidade do Demo.

Pergunta que não quer calar: Se Deus criou todos os seres e todas as coisas para seu sentido pleno, que tal seguir apenas a lei de Deus para a vida?
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“Em nome de Jesus, Amém!”
É um neologismo! É um neologismo, sim! Esta frase famosa simplesmente não existe nas Escrituras, pelo menos não como “fecho” para orações. Não há nenhuma oração no Novo Testamento concluída com a frase “em nome de Jesus. Amém!” E, no entanto, segundo consta, as orações daqueles irmãos eram sempre atendidas!

A conclusão lógica preliminar é que a frase não é uma “mágica” que garante respostas à oração, mas, muito ao contrário, define o “caráter” da oração cristã, que é “orar segundo Cristo”, ou “como se o próprio Cristo estivesse orando” ao ponto de ser feita em “nome de Cristo”.

A origem desse “neologismo” é a palavra do próprio Cristo no Evangelho de João, dizendo coisas como: “Tudo quando pedirem em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se vocês pedirem alguma coisa em meu nome, eu o farei” (Jo 14.13s; 15.16; 16.23s).

Para esclarecer o que significa falar ou agir “em nome de” alguém, podemos consultar o senso comum e o Direito. É proibido usar o uso do nome de uma pessoa sem autorização e a autorização deve especificar os objetivos e os limites (p.ex., um instrumento de procuração). Descumprir isso tem nome: estelionato, falsidade ideológica, plágio, etc.

Mas, os religiosos modernos, pretendendo obter tudo que desejam, se apropriaram equivocadamente do “nome de Jesus” e colam tal expressão sob os mais egoísticos desejos e ainda esperam que Deus lhes atenda! Bem disse o velho Tiago: “Vocês pedem e não recebem, porque visam apenas seus próprios prazeres!” E Paulo lamentou: “Não sabemos orar direito… por isso o Espírito nos ajuda orando em nós!” (Rm 8.26).
Perguntas que não querem calar: Esse negócio de “colar” a expressão mágica “Abracadabra”… no fim das orações tá funcionando? Então experimente orar em conformidade com Jesus, no espírito de Jesus, na atitude de Jesus… Pois, isso é orar “em nome de” Jesus!
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58) “É tremendo!”
É uma neo-gíria religiosa. A expressão pode ser usada para as mais diversas finalidades. Etimologicamente, a palavra vem do verbo “tremer”, do grego “tromos” (medo), de onde tiramos a nossa palavra “trauma”, por exemplo. Mas existe também o adjetivo “tremendo”, que nada mais é do que aquilo que nos faz “tremer”, tanto no sentido positivo (grandioso, maravilhoso), como no sentido negativo (horroroso, espantoso)!

A Bíblia usa a palavra “tremendo”, mas geralmente como flexão do verbo “tremer” — de medo! Como adjetivo, normalmente se refere a Deus, nos salmos e poesias, como “grandioso”, “grande Rei”, “santo” e “poderoso”, isto é, “tremendo!” Mesmo assim, não é a descrição de um Deus irascível, mas admirável: “Louvem o teu nome, grande e tremendo, pois é santo.”

Bem, na neo-linguagem religiosa, “tremendo” se tornou palavra-chave, especialmente para descrever os tais “encontros com Deus” (ECD), retiros de fins de semana que muitas igrejas adotaram, especialmente as que aderiram ao movimento G-12.

Os cristãos de toda a história sempre praticaram o hábito de fazer retiros para cultivo da vida espiritual, mas o que se tem agora é mais uma técnica de “marketing”, segundo a qual os participantes do “ECD” se comprometem a não dizer nada que acontece no retiro, a não ser: “É tremendo!”

Oh, saudade dos retiros antigos! Haja paciência!

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59) “Oh, glória” “Dar glória a Deus!”
A palavra “glória” vem do grego “kleos”, que vem do verbo “kleu” que significa “ouvir” no sentido de “ouvir falar de alguém”. Daí evoluiu para “fama”, “reputação”, “honra”. O “kleos” palavra aparece apenas uma vez no Novo Testamento (em 1Pe 2.20). Sem dúvida alguma, a palavra mais usada para “glória” no NT é “doxa”, traduzida como “brilho”, “esplendor”, “majestade”, e também como “fama”, “honra”, “prestígio”, “louvor”. Como verbo (“dokeo”), é traduzido por “louvar”, “honrar”, “magnificar”, “glorificar”.

Em hebraico, “glória” é “kabod”, que significa originalmente “peso”. A palavra pode ser usada para descrever a riqueza, honra, fama e as realizações de pessoas, mas principalmente as manifestações de Deus, no sentido de “brilho”, “luz”, “poder”.

Mas, na neo-linguagem religiosa, a palavra “glória” está despida de toda a sua “glória”… Por exemplo, a expressão “Oh, glória” pode ser usada como interjeição sinônima de “uau!”, “puxa vida!”, “legal!” ou qualquer coisa assim. O costume de “dar glória a Deus” pode ser apenas invocação das manifestações do Espírito. Virou até substantivo masculino — “dar ‘um’ glória a Deus”.

Perguntas que não querem calar: Que “glória” os homens podem “dar” àquele que é a própria Glória? Deus precisa receber glória dos homens? Será que a “Glória” depende da nossa glória? Será que a “glória” de Deus é da mesma natureza que a glória dos homens? O que é glória para os homens seria glória para Deus? Nós mal compreendemos as manifestações de “glória”, mas a Glória mesma, o que é?

Como disse o salmista, diante do inefável, “tudo diz: Glória!” (Sl 29.9).
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60)“Estou apaixonado por Deus” “Apaixonado por Jesus”

“Apaixonado”, de “paixão”, do latim “passio”, “passus”, particípio do verbo “patior” que significa “padecer”, “sofrer”. Esse verbo deu origem a diversas palavras em português, como “paciência”, “com-paixão”, “sim-patia”, etc. Posteriormente, houve uma fusão semântica do latim “passio” com o grego “pathos”, e a palavra adquiriu o sentido de “desejo forte”. Por fim, o romantismo transformou “paixão” em sinônimo de amor intenso e fugaz, emocional, erótico… e assim ficou até hoje. Tanto é que, na linguagem comum, dizer “estou apaixonado” soa mais forte e sensual do que “te amo”.

Sem dúvida, a palavra “paixão” entrou para o vocabulário da fé cristã como referência ao “sofrimento” de Cristo, embora o Novo Testamento raramente use tal palavra para o caso. No texto grego original, “paixão” tem sempre o sentido de “desejo forte” ou “sofrimento”, “aflições”. Sim, a “paixão” de Cristo é um sofrimento por “amor”, mas está longe de ser o amor dos “amantes” — é o amor sacrificial de Deus, chamado “agape” no grego, e não “eros”.

Mas, nos últimos tempos, a palavra “paixão” ressurgiu no vocabulário religioso com a acepção sensual — um neologismo! A religião pós-moderna, mais centrada no humano do que em Deus, mais interessada em sensações do que em verdades, está adotando essa neo-linguagem para que as pessoas cantem sobre como estão “apaixonadas” por Deus.

Ora, a Bíblia não conhece essa linguagem. Ela fala muito de amor… do amor das pessoas, dos amigos, dos amantes, dos pais, dos filhos… mas sobretudo fala do amor divino: “Deus é amor!” Sendo Amor em essência, Deus convida o ser humano ao seu amor gratuito. Esse amor filial para com Deus se expressa em obediência aos seus mandamentos. E esses mandamentos levam de volta ao amor, pois Jesus disse: “O meu mandamento é esse: que vocês se amem uns aos outros, como eu os tenho amado”.

Perguntas que não querem calar: Diante daquele que é o próprio Amor, que sofreu a mais violenta “paixão” (no sentido original!), que conhece seu coração, não soa um pouco temerário dizer que está “apaixonado” por Ele? Não seria melhor dizer como Pedro: “Senhor, tu sabes tudo… tu sabes que tenho afeição pelo Senhor… mas amar mesmo, amar…”
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61) “Cair no Espírito”.
“Cair” vem do latim “cadere”, daí “caer” e então “cair”. Há uma palavra derivada dessa que é importante para a nossa teologia: a palavra “queda” (de “caeda”), usada para descrever a perda do status original do ser humano: de “glória” para o “pecado”, separação de Deus e a consequente quebra de todos os relacionamentos.

Bem, mas esta “queda” não tem nada a ver com o “cair no Espírito”. Nessa frase, “cair” é um verbo transitivo indireto: quem “cai”, “cai em algum lugar”, como “cair no chão”, no caso concreto, “no Espírito”. Então, se “cair” é um movimento de “cima para baixo”, supõe-se que o Espírito está no chão?! Ou então seria “cair” pelo golpe… ops… poder do Espírito?

A Bíblia não fala nada sobre “cair no Espírito”. Ela fala que o Espírito foi dado para levantar o ser humano do seu status de pecado e elevá-lo à glória de Deus. A Bíblia fala de “nascer do Espírito”, “renovar-se no Espírito”, “orar no Espírito”, e coisas assim… mas “cair no Espírito” não fala… Portanto, “cair no Espírito” é um neologismo completamente estranho à fé cristã.

Perguntas que não querem calar: Por que e para que o Espírito derrubaria pessoas? O Espírito de Cristo foi enviado para con+vencer as pessoas, intelectualmente… mas, vencer fisicamente?

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62) Escola bíblica dominical

Esse é um neologismo mais ou menos recente… não chega a 300 anos! Essa escola se tornou tão importante que dá a impressão que sempre existiu, mas, assim como a “célula”, é um neo-logismo, pois a Bíblia não fala nada sobre “Escola Bíblica Dominical” (EBD)!

A etimologia é simples, mas não dá conta de explicar o neologismo: É uma “escola”, porque é lugar de ensino. É “bíblica” porque o livro base é a Bíblia. E é “dominical” porque costuma se reunir aos domingos, o principal dia do culto dos cristãos.

Historicamente, a EBD surgiu na Inglaterra, na época da Revolução Industrial, por iniciativa de um jornalista chamado Robert Raikes, que andava preocupado com as crianças pobres, submetidas a trabalho insalubre das fábricas e excluídas das escolas regulares e que ficavam ociosas aos domingos. Então ele começou a reuni-las nesse dia para alfabetizá-las com base em textos bíblicos. A ideia deu tão certo que se alastrou imediatamente para outros países, foi assumida por todas as igrejas evangélicas e se tornou um verdadeiro centro de formação cristã.

Assim, apesar de ser neologismo, a “escola bíblica dominical” resgata um hábito primitivo dos cristãos, descrito como “ensinar todas as palavras de Jesus” e “perseverar no ensino dos apóstolos”. Além disso, a EBD está em linha com os ideais da Reforma Protestante que colocou a Bíblia na língua do povo e, por isso, tem de ensinar o povo a ler e interpretar o texto sagrado.

Ultimamente, porém, a EBD está se tornando rapidamente um museu-logismo fora de moda! A sociedade moderna não tem mais interesse em refletir temas essenciais… As igrejas estão trocando suas EBDs por eventos mais interessantes… Os sobreviventes são considerados bichos estranhos, uns “tatus”, por causa dessa mania de buscar os tesouros escondidos das Escrituras…

Triste fim de um “neologismo” tão antigo, com uma história tão bela…
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63) “Estar no centro da vontade de Deus”.
Já examinei a palavra “vontade” (desejo, querer) e “plano” de Deus, no sentido de projeto pessoal definido, mas resta saber se essa “vontade”/”plano” tem um “centro”, e, se tem, o que significa?

Bem, a palavra “centro” vem do grego “kentron” que significa “ferrão”, “ponteiro”, aguilhão ou qualquer coisa que tenha uma “ponta aguda”. Daí a ideia de ponto no “centro” de um círculo e, portanto, a ideia de “centro” geográfico/geométrico. A Bíblia nunca usa a palavra “centro” (nem em sentido literal, nem figurado) e muito menos fala em “centro da vontade” de Deus. Nenhum autor bíblico jamais exortou os cristãos a buscarem viver no “centro da vontade” de Deus.

Ah, sim, claro que a Bíblia fala muito da vontade de Deus como sendo a salvação e a santificação de todas as pessoas. E também é claro que há pessoas que amam e buscam com mais cuidado viver segundo a vontade de Deus. Mas, segundo os apóstolos, a vontade de Deus não é um “lugar geográfico”, mas uma atitude que o próprio Deus gera nas pessoas que o amam e que sempre resulta em um estilo de vida de santidade, amor, humildade, fé, esperança.

A neo-linguagem religiosa trata a vontade de Deus como um lugar dividido em zonas, que tem “centro”, “periferia” e “borda” (talvez com a mesma ideia de “vontade perfeita” e “vontade permissiva”…). O problema é que esta divisão acaba classificando as pessoas entre aquelas que moram no “centro” e a aquelas que moram na “periferia” da vontade de Deus. E onde há classificação está criado o ambiente para brotar o orgulho “espiritual” e não o companheirismo, solidariedade, humildade e união!

Perguntas que não querem calar: Em vez de lotear a vontade de Deus entre “centro” e “periferia”, que tal darmos as mãos e nos ajudarmos uns aos outros a andarmos na boa, agradável e perfeita vontade de Deus?
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64) “Sentir a presença de Deus”.
Bem, “sentir”, para encurtar a história, vem do latim “sentire”, cujo significado mais comum é “perceber com os sentidos” ou “sentir com as emoções” as impressões do mundo exterior, como calor, frio, tristeza, alegria, cores, sabores, etc.

Ora, Deus não é um Ser físico, mas espiritual. Segundo a teologia cristã, Deus é onipresente, ou seja, está plenamente presente em todos os lugares. Sendo assim, Ele enche e preenche todas as coisas materiais e as ultrapassa, pois não se confunde com a matéria ou com os seres que existem.

Há, portanto, aí um problema lógico: como é possível “sentir” (perceber, captar) o Espiritual por meio de faculdades físicas? É claro que nós temos alegria e prazer na devoção a Deus. Mas também temos de admitir que muitas “emoções” são despertadas por motivos falsos… E é aí que mora o perigo da busca “sensorial” da presença de Deus… As emoções podem ser facilmente manipuladas… por isso não são confiáveis…

P’ra começo de conversa, a Bíblia nunca usa essa expressão, nem trata as manifestações da “presença” de Deus como objeto irracional ou apenas dos “sentidos”. A Bíblia fala de um povo que confia na presença de Deus, mas também espera pelo “dia” em que Ele estaria presente sem impedimento… “Habitarei com meu povo…” Em Cristo, esse Dia já começou! Quando Cristo nasceu, o evangelista lembrou que seu nome profético seria “Emanuel”, que significa “Deus [está presente] conosco”. Quando Jesus se despediu dos seus amigos, disse: “Eu estarei presente com vocês todos os dias para sempre”. Assim, o cristão sabe que está na presença de seu Deus todo dia, independente de “sentimentos”.

Por isso “sentir a presença de Deus” é um neologismo…

Perguntas que não querem calar: Não é estranho que algo nunca abordado pelas Escrituras — nossa regra de fé e prática — tenha se tornado tão importante para a fé moderna? Não seria melhor superar a dependência “emocional” da presença de Deus em direção a um viver na presença dEle? Isto não é paraíso?
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65) “Ih, você é daquela denominação?” “A nossa denominação é mais cristã!”
“Denominação” vem do verbo “denominar” que significa tão somente “dar nome” (“nominar”). “Nome” vem do grego “onoma”, que vem da raiz “gno” (conhecer, de co+‘gno’+scere, co+‘gno’+me), ou seja, a palavra pelo qual alguém ou algo é conhecido (identidade).

Até aí tudo bem… mas como essa palavra se tornou um neologismo religioso? Bem, o “nome” se torna necessário quando se tem mais de uma pessoa ou coisa para “denominar”. Foi assim que surgiram os nomes, os sobrenomes e os cognomes (apelidos) das pessoas. Com as igrejas foi a mesma coisa. Isso ocorreu a partir da Reforma Protestante do século XVI. Quando surgiram as diversas igrejas protestantes, surgiu também a necessidade de distingui-las por suas marcas distintivas, doutrinais, geográficas, governativas e metodológicas, como por exemplo, “luteranas”, “presbiterianas”, “metodistas”, “batistas”, etc. Com o passar do tempo, a palavra “denominação” passou a ser usada para designar todas as diversas igrejas cristãs não católicas.

Portanto, apesar de soar umbilicalmente ligado ao cristianismo, trata-se de “neologismo”, porque obviamente o Novo Testamento nunca usa tal palavra. Mas, mesmo sendo um neologismo, o uso da palavra “denominação” se justifica como contingência histórica e organizacional. Não tendo governo único como os católicos e os ortodoxos, os protestantes mantêm diversas organizações eclesiais descentralizadas chamadas de “denominações”. Porém, quando a bandeira da “denominação” é erguida para representar qualquer coisa além disso, aí já se trata de “guerra santa” e, então, não resta mais nada de cristianismo, pelo menos não o de Cristo.

Perguntas que não querem calar: Se nossa religião é cristã e se “denominação” não é sinônimo de “religião”, que tal guardar as armas da “guerra santa” e dar as mãos aos irmãos?
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66) “Segredo da bênção”, “segredo da oração”, “segredo da vitória”.
Bem, a palavra “segredo” é o mesmo que “secreto”: ambas são particípio passado do verbo latino “secernere” (“se” + “cernere”). A partícula “se-” tem a ideia de “separar” e “cernere” (que deu nosso verbo “cernir”, ou peneirar, separar) significa “cortar”. Portanto, “segredo” é aquilo que é separado e colocado à parte, ou seja, em “secreto” (oculto).

Como neologismo, o “segredo” tem três pés: um no misticismo (religiões de mistérios), outro na auto-ajuda e outro no “marketing”.

O mercado religioso adotou esse neologismo amplamente e embarcou na onda de vender “segredos” sobre tudo: “segredo” da vida, “segredo” do casamento, “segredo” da oração, “segredo” da vitória, “segredo” do crescimento da igreja, o “segredo” do “segredo”!

É claro que há princípios bons que merecem ser compartilhados, mas o problema com esse neologismo é que pressupõe pessoas especiais detentoras de “segredos”, que normalmente os compartilham “comercialmente” mediante a venda de livros, cds, dvds, palestras, cursos, etc… Músicas, conferências, livros e ministérios inteiros sobrevivem vendendo “segredos” espirituais. Recentemente, o livro de auto-ajuda chamado “O Segredo” fez o maior sucesso entre religiosos… também fez fortuna… para sua autora, obviamente…

Bem, para começo de conversa a Bíblia não fala de “segredos” nem trata qualquer assunto importante como “secreto”. Muito pelo contrário, ela fala de “boas novas” e de revelação. Quando Jesus morreu, o véu do templo se rasgou de alto a baixo. Acabou-se a religião do mistério. Jesus é o fim do “segredo” e do “secreto”. Ele é a luz e a partir dele tudo é claro e revelado.

Perguntas que não querem calar: Se Jesus, que era o “mistério” de Deus, se revelou, quem é você para falar de (e vender!) segredos de Deus?





by Eliseu Pereira
Professor na Faculdade Batista do Paraná e na Faculdade Cristã de Curitiba
Estudou Teologia na instituição de ensino PUC PR
https://www.facebook.com/eliseugp


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