1.27.2016

Série NEOLOGISMOS


67) “Vamos à casa do Senhor” ou “Reverência na casa de Deus!”

A palavra “casa”, em qualquer língua, tem pelo menos dois significados: (1) “construção para residência” e (2) sinônimo de “família”, “lar”. Sendo assim, o que significa “casa de Deus”? A “construção” onde Deus mora? O “edifício” que serve de “lar” para Deus? Que tipo de “casa” seria adequada para Deus morar? Bem, todos os deuses da história têm suas casas, com seus altares e locais sagrados.

No caso do cristianismo, esse negócio de casa de Deus tem uma longa história… Começa com o “paraíso”, o “lar” do primeiro casal, passa pela “tenda” no deserto e pelo “templo” de Salomão — o de Jerusalém, claro! Aliás, aquele magnífico templo foi ideia dos homens e não de Deus! Mas nunca deu muito certo! O templo logo se tornou lugar de idolatria e de injustiça! Acabou sendo destruído junto com o reino dos judeus…

Mas, séculos depois, quando Jesus andou por Jerusalém, o templo havia sido reconstruído e reformado… estava chique de novo… e cheio de pecado de novo! Jesus nunca se impressionou com o templo: “Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada!” Triste fim para a casa feita para o Deus dos judeus…

Mas a história não termina aí… De fato, Jesus inaugurou um novo tipo de religião, sem templos e sem lugares sagrados. Ele disse claramente: “Destruam esse templo e em três dias eu o reconstruirei!” Claro que os judeus não entenderam nada e até o condenaram por atentar contra o templo. Ele, porém, estava se referindo à sua morte e ressurreição! Depois do que Cristo fez, as próprias pessoas poderiam ser habitação de Deus, ou seja, “templos” ambulantes! E é claro que pouquíssimas pessoas entendem isso… E até o condenam por essa ousadia!

Perguntas que não querem calar: Se as pessoas são “templos” ambulantes para o Deus de Jesus, para que serve o templo de Salomão do bispo Macedo (e todos os outros)? Se as pessoas de fato acreditassem que Deus mora no coração dos que o amam, não tratariam as pessoas com mais reverência do que tratam os prédios onde se reúnem para culto?

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68) Interjeições oriundas da linguagem religiosa (em ordem alfabética):

“Adeus”: palavra de despedida, derivada de frases como “entrego-te a Deus!”.

“Afff”: interjeição de espanto e admiração, derivada de “ave” (“salve”) como na reza “Ave Maria, cheia de graça…”

“Aleluia”: interjeição de alívio, equivalente a “até que enfim…”, é palavra dos Salmos e significa “Louvai a Iavé” ou “Iavé seja louvado”.

“Ao Deus dará”: expressão que significa “entregue à sorte”, “entregue ao abandono”. Segundo consta, era a resposta que davam aos mendigos: “Uma esmola pelo amor de Deus”. Diziam: “Deus dará!”.

“Credo!”: interjeição de repulsa, nojo, é a primeira palavra do Credo Apostólico em latim: “Credo in Deum Patrem omnipotentem…”. Em português: “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso…”

“Cruz credo!”: interjeição de espanto, medo, repulsa, derivada da frase latina “Crux credo”, dita ao fazer o sinal da cruz, e significa “creio na cruz”.

“Nossa!” (e suas variantes Nó!“,“Nooooooh!”, “Nossss”, “Nó Senhora!” “Sá’sinhora!”): interjeição de admiração, vem da invocação “Nossa Senhora!”

“Oxalá”: do árabe “in shá Alláh”, expressão muçulmana que significa “Queira Deus!”

“Vixe” (ou “Virge”, ou “Ixe”): interjeição de espanto e admiração, também vem da invocação “Virgem Maria!”.

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69) Meu “pai na fé”! Meu “filho na fé”! Quantos “filhos espirituais” você tem?

Ora, na família de Deus há apenas um Pai e todos os homens e mulheres dessa família são irmãos e irmãs. Mas, de tempos em tempos, os cristãos esquecem que tipo de família são… e então criam outros graus de parentesco, dizendo “fulano é meu ‘pai’ na fé”, ou “fulana é minha ‘filha’ na fé”.

São frases muito comuns, mas estranhas e, portanto, “neologísticas”! Afinal Deus não tem “netos”, né não! Os discípulo do Novo Testamento não chamavam a ninguém de “pai” ou de filho, a não ser afetivamente! Nunca “espiritualmente”! A propósito, Jesus disse expressamente: “A ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o que está nos céus… e todos vós sois irmãos!” (Mateus 23.8,9). O único que pode ser chamado “Pai” é aquele que gera, portanto, o próprio Deus. João diz que os filhos de Deus não nascem por vontade humana, mas divina (Jo 1.12).

Logo, nessa família de Deus, a única tarefa que os filhos de Deus podem assumir em relação aos outros é aquela de irmãos mais velhos que ajudam os mais novos. Quando um cristão compartilha a fé com outra pessoa, ele jamais deve assumir o papel de “pai espiritual”, mas de “irmão”, de “companheiro” de caminhada. Assim se garante que a fé cristã seja uma fé de emancipação e não de menoridade permanente. Assim, se “re”-estabelece a igualdade e a solidariedade entre as pessoas e se afirma apenas Um acima delas: “o Pai de todos nós que está do céu”.

Pergunta que não quer calar: Dá para crescer e assumir a plena estatura cristã? Dá para ajudar os irmãos a saírem da menoridade?

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70) “Conhecer as estratégias do Demo!”

A palavra “estratégia” é de origem militar. Deriva do latim “stratego” — composta de “strato”[exército] + “ago”[conduzo] — como era chamado o oficial militar responsável pelas manobras (“estratagemas”) das legiões romanas em campo. Daí resultou o sentido de planejamento do uso dos recursos disponíveis numa certa situação, luta, esporte, etc.

Sim, em qualquer disputa é necessário conhecer o estilo ou as estratégias do adversário. Por exemplo, um lutador estuda o estilo de luta do seu oponente. Um técnico de futebol estuda as técnicas de jogo do time adversário, etc. Daí se conclui que o cristão deve conhecer bem as estratégias do Demo, o arqui-inimigo da fé. Certo? Errado!

Essa não é a lógica da fé cristã, mas um neologismo dos adeptos da “batalha espiritual”! Por isso, há crentes entrevistando demônios, pesquisando nomes de demônios, estilo de jogo dos demônios, técnicas de batalha espiritual, etc… são especialistas em demonologia!

Interessante… a palavra “estratégia” nunca é usada na Bíblia. As palavras mais próximas são “cilada” (Ef. 6.12; do gr., methodeia, de onde tiramos a palavra método”, que significa literalmente “caminho para”) e “laço” (1Tm 3.7 e 2Tm 2.26, do gr., pagis). Nesses casos, admite-se os perigos espirituais contra a fé, mas a ênfase é colocada na vigilância, no conhecimento da verdade e na prática perseverante das virtudes cristãs. O cristão é exortado a vigiar contra as “ciladas” e os “laços” do “Demo” e não a estudá-los.

Como se faz isso? Talvez a analogia correta aqui não seja a da guerra, da luta ou do jogo, mas a do dinheiro falso: é necessário conhecer bem as características do dinheiro verdadeiro e não as do falso, pois quem conhece bem o verdadeiro, facilmente identificará o que é falso. A verdade é o critério para denunciar a mentira.

Perguntas que não querem calar: Em vez de ficar estudando o Demo, que tal conhecer a Deus? Em vez de estudar a mentira, que tal praticar zelosamente a verdade?

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71) “Eu tenho a marca da promessa!”

Neologismos procriam como coelhos!!!

Promessa agora tem marca? Tem grife? Vamos por partes:

“Marca” vem do germânico “marka”, do inglês “mark” e seu significado original é “margem”, delimite, fronteira. Depois evoluiu para o significado que tem hoje, de signo, sinal. No Novo Testamento, a palavra grega traduzida como “marca” é “charagma” que significa “imprimir”, “gravar” um sinal usando instrumento de uma ponta fina, como quem insculpe em madeira, por exemplo.

Já a palavra “promessa” (prometer) é latina e composta de ‘pro’ + ‘mettere’. O prefixo ‘pro’ significa “para frente” ou “em favor” e o verbo ‘mettere’ significa “enviar”, “lançar”, da qual também tiramos a palavra “missão”. Portanto, o significado próprio de “promessa” é “palavra que se diz antes de ir”, “palavra à frente (ou antes) do ato”, ou ainda “palavra com garantia de futuro cumprimento”.

Juntando “marca” e “promessa”, o que temos? As margens da promessa? Ou “compromisso” de Deus insculpido na ‘testa’ dos cristãos? A propósito, na Bíblia, a palavra “marca” é usada exclusivamente no contexto do reino da “besta”, que, esta sim, marcará seus súditos com “charagmas” na mão e na testa. Mas a Bíblia nunca diz que Deus marca seus filhos.

Quanto às “promessas” de Deus, elas não têm necessidade de “marcas”, porque estão firmadas no caráter de Deus e afiançadas apenas por Ele. Justamente por isso, são “palavras com garantia de cumprimento futuro”.

Pergunta que não quer calar: vai crer ou quer uma marca como garantia?

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72) “Rebelde!”

A palavra “rebelde” é formada por “re”+ “bellum”, que forma a nossa palavra “bélico” (ref. à “guerra”). Por sua vez, “bellum” vem de “duelo”, que é um conflito entre duas partes opostas. Portanto, “rebelde” (“rebeldia”, “rebelião”) pressupõe conflito entre duas vontades ou “recusa de obediência” à autoridade.

O NT condena a rebeldia contra Deus. Não fala de rebeldia contra homens, talvez porque eles não tenham exigido obediência à si mesmos, mas a Deus. Quando o NT fala em desobediência, o sentido é sinônimo de incredulidade, ou seja, falta de fé na palavra de Deus. Então por que “rebelde” é um neologismo? Porque a palavra está sendo usada (e abusada) para impor o dever de obediência indiscriminada a pessoas que arrogam para si a autoridade de Deus. Como a “obediência” é uma virtude cristã, os “guias” religiosos buscam canalizar para si a obediência devida a Deus e, para tanto, invocam contra os “rebeldes” todas as ameaças do “mármore do inferno”…

Para esclarecer de uma vez por todas: na fé cristã, há apenas um degrau e esse já está plenamente ocupado: por Deus! Ele é o único que pode requerer obediência. Todos os irmãos de fé são iguais em dignidade, por isso só podem manter relacionamentos de mutualidade. Isso quer dizer que ninguém pode impor sua palavra sobre seus pares. O máximo que podem fazer é indicar o caminho e deixar o outro livre para reconhecer a razoabilidade da indicação. Na fé cristã, apenas pessoas livres podem se sujeitar umas às outras para amar e servir.

Como disse o apóstolo Paulo, às vezes será necessário rebelar-se contra homens para obedecer a Cristo! (Gálatas 1.10).

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73) “Pastor ordenado” ou “Você já foi ordenado?”

Ordenado? Ordenar? Ordem? “Pastor ordenado” não tem nada a ver com o “ordenado do pastor”… rsrsrsrs, mas com “receber as ordens” do ministério pastoral. Mas o que significa isso?

Bem, a palavra “ordem” vem do latim “ordo”, que vem de “urdir”, que significa “tecer os fios” no tear. Dessa ideia nos veio a palavra “ordem”, que quer dizer “arrumar”, “arranjar”, “por em sequência” e por aí.

No sentido religioso, as “ordens” são tão importantes que se tornaram um dos sete sacramentos da igreja católica. Um sacerdote católico é alguém que recebeu as “ordens” e, portanto, tem poder para praticar certos ofícios. No meio protestante-evangélico, não há a ideia de ministério como “sacramento”, mas a palavra “ordenar” foi preservada. Portanto, ela continua fazendo, indevidamente, diferença entre “clero” e “leigo”. Uns são “ordenados”, outros não. Uns são protagonistas, outros figurantes. E onde há “ordenados”, há “sub-ordinados”! E onde há “subordinados” não está o reino de Deus.

Bem, pra começo de conversa, a Bíblia nunca usa as palavras “ordens” ou “ordenar” no sentido neo-religioso de atribuir a alguém o sacerdócio. A propósito, o NT nem usa a palavra sacerdócio para pessoas individuais, mas apenas para todo o povo de Deus (logo, todos são ordenados??? Ordenados a servir e amar???).

Portanto, “ordens” ou “ordenação” é um neologismo!

Neste caso é preferível usar outro termo: “consagrar” ao ministério pastoral, porque a palavra “consagrar” tem o sentido de “dedicação a” ou de “separado para”. Mas, principalmente, a palavra “consagrar” é preferível porque pode ser aplicada a todos os discípulos de Cristo (portanto, não cria “degraus”).

E onde não há degraus de poder aí está o reino de Deus.

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74) “A palavra de ordem é: Multiplicação!”

“Multiplicação” também é neologismo? Vejamos:

É verdade que a Bíblia fala muito de “multiplicação”. No Antigo Testamento, a palavra ocorre principalmente em dois contextos: como crescimento vegetativo e demográfico de pessoas e animais — “multipliquem-se!” — e no aumento da iniquidade: os pecados também se multiplicam!

No Novo Testamento, há também dois casos principais de “multiplicação”: o crescimento da igreja e o das virtudes e da graça de Deus. Há um caso famoso de “multiplicação” — o milagre da multiplicação dos pães — mas, na verdade, a palavra aparece apenas no título, não no texto do Novo Testamento.

Hoje, quando os religiosos falam de “multiplicação”, o que se tem em mente é a “multiplicação de membros da igreja”. Ora, se o NT fala em “multiplicação da igreja”, então, por que agora “multiplicação” é um neologismo religioso?

Simples: No NT, a igreja se multiplicava como “resultado” natural de uma vivência saudável. De fato, a igreja primitiva cresceu de modo explosivo, mas não porque usava técnicas de crescimento, mas porque “Deus ia acrescentando dia a dia mais pessoas à igreja”.

E por que Deus “multiplicava” a igreja todo dia? Porque a comunidade de discípulos permanecia na doutrina dos apóstolos, na comunhão, na oração e na vida simples e generosa (At 2.42). Ninguém passava necessidade porque os demais vendiam seus bens para socorrer os pobres. E a igreja tinha boa reputação de todos os de fora.

Conclusão que não quer calar:

Quando “multiplicação” é resultado de vida comunitária saudável, então é um “logismo” evangélico. Mas quando “multiplicação” é “estratégia” ou “técnica” de crescimento de igreja, então é apenas um “neologismo”, um comportamento estranho à igreja de Jesus. Portanto, os discípulos de Jesus devem se deter no “processo” de vida saudável e não no resultado do crescimento. Como Paulo disse: um planta, outro rega, mas é Deus que dá a “multiplicação” (1Co 3.6-8).
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75) “Concentração de milagres”

A palavra “concentração” é formada de “co”+”centro”, que significa literalmente mais de um círculo com o mesmo centro (“concêntrico”). Bem, a palavra “centro” vem do grego “kentron” que significa “ferrão”, “ponteiro”, aguilhão ou qualquer coisa que tenha uma “ponta aguda”. Daí a ideia de ponto no “centro” de um círculo e, portanto, a ideia de “centro” geográfico/geométrico.

Na neo-linguagem religiosa, a palavra “concentração” tem sido usada como sinônimo de “reunião”. Mas ela tem uma longa história nas religiões de matriz africana, que chama seus locais de culto de “centro”, bem como no espiritismo, onde se usa a prática da “concentração”, no sentido de fixar a mente em um objeto: “Agora vamos nos concentrar…” Mas no cristianismo, a palavra não existe, por isso é um autêntico neologismo! Um termo infiltrado! A Bíblia simplesmente nunca usa a palavra “concentrar” (ou seus derivados), nem no sentido geográfico, nem no sentido místico.

Já “milagre” é um termo bem bíblico. A palavra vem do latim “miraculum”, que significa “coisa maravilhosa” (“mira-viglia”), com o prefixo “mira-”, que indica “olhar, mirar”, como em “ad+mirar”.

Mas, juntando “concentração” com “milagre”, o que significa? É um “local onde os milagres se reúnem”?? (sentido geográfico) ou “fixar a mente no sobrenatural”?? (sentido místico). Brincadeiras à parte, “concentração de milagres” é um acontecimento em que o “milagre” é o ator principal e isso é um neologismo, uma prática estranha à fé cristã!

É verdade que a Bíblia fala muito de milagre sobrenaturais, mas eles sempre apontam para Deus. Ele, sim, é o admirável na nossa fé!

76) “Igreja emergente”.

Os neologismos religiosos voltaram… O que que eu posso fazer… se esses “neo” se multiplicam como coelhos! rsrsrsrs

Este é um hiper-super-neo-logismo!!! Vamos lá:

Bem, “igreja”… bem ou mal… todo mundo sabe o que é! Mas, o que significa “emergente”? A palavra vem do latim “merge” e formou a nossa palavra “mergulhar”. Ela aparece em “imergir” (mergulhar para dentro), submergir (mergulhar para baixo) e… emergir (mergulhar para fora)!!! Ou seja, o contrário de “imergir”, portanto, sair para fora d’água…
O adjetivo “emergente” não é exclusivo da linguagem neo-religiosa… Ele tem sido usado na geopolítica para se referir aos “países emergentes”, sinônimo de uma expressão mais antiga: “países em desenvolvimento”.

E daí? Daí que a expressão “emergente” pulou da geopolítica para a neo-eclesiologia para se referir a… o que mesmo??? O que significa “igreja emergente”??? Seria uma “igreja em desenvolvimento”??? Ou um novo tipo de igreja que está emergindo das águas??? Cruz credo! Ou então uma igreja que está “mergulhando para fora”??? Fora do quê? Ih, tá piorando… Uma certa igreja que está fazendo ondas na superfície da água, mas ainda não dá para saber o que vai sair à tona??? É uma igreja estranha! No Apocalipse de João, o que emerge é a besta! Seria então uma igreja-“besta”, uma igreja-monstro?

Bem, não é a igreja de Jesus… a igreja de Jesus não está emergindo de lugar nenhum. Está semeada na superfície do mundo há muito tempo… Misturada com joio… muito joio… mas ainda assim está aí. É claro que a igreja de Cristo deve ser a igreja do seu tempo… que ela deve encarnar o evangelho eterno de Cristo na sua geração… mas “emergente”???

Desculpem não poder ajudar… mas eu também não sei… só ouço falar de ondas borbulhando na superfície das águas das religiões… de uma igreja que está emergindo, mas não entendo o que está subindo desse caldo!

Mas, quer saber? Também nem estou preocupado em saber… Afinal, não estou procurando nada novo! Estou procurando algo muito antigo… de uns dois mil anos de existência… Estou olhando em outra direção…
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77) Teologia da prosperidade.

Ahá, danadinha, chegou a sua vez: vamos por partes, porque essa é um baita neologismo.
A palavra “teologia” é composta de “theos” (Deus) + “logos” (estudo, discurso), portanto, “estudo sobre Deus”. De modo simples, teologia pode ser definida como “o estudo de Deus e suas relações com a humanidade e toda a criação”. Assim, podemos chamar de “teologia” qualquer estudo que revele algo sobre Deus, como, por exemplo, Teologia Católica, Teologia Protestante, Teologia da Esperança, Teologia da Libertação, etc. Aí pinta o primeiro grilo: podemos chamar a “Prosperidade” de teologia? Ela ensina sobre Deus? Talvez…, mas sobre qual Deus? O de Jesus?

Bem, mas continuemos… E prosperidade, o que significa? A palavra é formada de “pro” (“a favor de”, “para frente” ou “conforme”) + “spes” (expandir, ser bem-sucedido) de onde formamos a palavra “e-spe-rança” (e também “speed”, em inglês). Portanto, “prosperidade” tem o belo significado de “conforme a esperança” (“prosperança” ou “esperidade”). Mas no sentido neologístico-religioso, o significado é mais estrito e material: trata-se de usar a fé para prosperar financeiramente, ganhar dinheiro, adquirir bens, ser feliz, ser bonito e ter saúde (talvez nessa ordem… rsrsrsrs).

Pois como é que essa “ambição” se tornou uma teologia??? Como foi que a avareza, um dos pecados capitais, virou virtude religiosa? Bem, a convivência da religião com o dinheiro nunca é neutra: Ou nega o dinheiro ou adora o dinheiro! Os “próspero-teólogos” (com perdão do trocadilho) têm razão: Jesus falou muito sobre dinheiro, mas sempre para ensinar a generosidade e a liberalidade, jamais para apoiar o amor e a adoração ao dinheiro. Jesus foi pobre, abençoou os pobres, anunciou o evangelho aos pobres… Os apóstolos foram todos pobres, as primeiras igrejas eram pobres… e os ricos eram exortados a serem generosos!

Portanto, dito claramente, a “Teologia da prosperidade” é uma aberração de termos, um neologismo estranho ao cristianismo. Não é teologia, porque não ensina nada sobre o Deus… pelo menos não sobre o Deus de Jesus, dos apóstolos e das igrejas primitivas do NT! Seus pressupostos são diabólicos e seus pregadores completamente falsos. Nas palavras de Jesus, “não podemos servir a dois deuses”. Não podemos servir a Deus e ao Capital!


Pergunta que não quer calar: Você prefere “teologia” (aprender sobre Deus) ou “prosperidade” financeira? Vai ter de escolher… porque as duas juntas não levam a Cristo.

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78) Louvor e adoração: “louvor” é cantar batendo palma e “adorar” é cantar de olhos fechados! Louvar é dançar! Adorar é chorar!


É isso que dá fazer definições simples de atos profundos! Desde que me conheço por gente, ouço esse “dogma” litúrgico: todo culto deve começar com cânticos animados: isto é louvor. Depois, seguem-se cânticos mais calmos, para o povo se aquietar e ouvir o sermão: isso é adoração!
Raios! Quem inventou essas definições? Como foi que esse “telefone sem fio” chegou até nós?
O verbo “louvar” vem do grego “k’laud”, que perdeu o “k” e ficou “laud”, e em latim “laudare”, depois “loar”, “louar”, e, por fim, “louvar”. O grego do NT usa diversas palavras para dizer louvor/louvar como “hymneo” (que deu origem a nossa palavra “hino”), “psallo” (de onde se formou a palavra “salmos”), “eulogia” (que formou “elogio”). Portanto, “louvar” significa tão somente “elogiar” alguém (dar “loas”).
E adorar? Essa é interessante: vem latim ‘adorare’, composta de ‘ad’ (para, em direção a) + ‘orar’ (de ‘oris’, que significa ‘boca’). Literalmente, poderia significar apenas “à boca”! Essa expressão faz referência a um gesto litúrgico antigo de tocar o objeto com a mão e levá-la “à boca” para beijar, evitando beijá-lo diretamente com os lábios por respeito; ou, quem sabe, levar a mão ‘à boca’ por espanto e admiração diante do divino.
Em hebraico, a palavra mais usada para adorar é “shâchâh”, que significa prostrar-se, inclinar-se, reverenciar. No grego do NT, aparece a palavra “proskyneo”, composta de “pros” (diante) + “kyneo” (beijar a mão).
Portanto, essa definição que distingue “louvar” e “adorar” com base no ritmo da música não tem base teológica, escriturística, tradicional ou etimológica. É neologística mesmo!
A única diferença que (penso eu) se pode vislumbrar é: “louvar” é um ato mais restrito, porque se faz com palavras faladas, escritas ou cantadas, enquanto que “adorar” é mais amplo, referindo-se a um estilo de vida, de entrega de si a Deus.

79)  “Amém, irmão?” “Amém!”
Isto não está certo… A palavra “amém” não deveria ter sido incluída entre os neologismos religiosos… tsc, tsc… Afinal, ela é muuuuuito antiga! Bem, a palavra é antiga, mas o uso é “neo”… A palavra “amém” tem sido usada como uma espécie de “coringa”… pois pode ser usada para substituir diversas expressões, como, por exemplo, “alôoo”, “vocês entenderam?”, “concordam?”, “acorde, pessoal!”, “prestem atenção”, “tudo ok??”, etc, etc. Até os dicionários definem “amém” como interjeição!
Mas a palavra hebraica “amém” é muito especial… a propósito, ela não foi traduzida. Em qualquer língua se diz “amém”. Muda apenas o sotaque!
O que significa “amém”??? A tradução mais simples é “assim seja”. E qual a origem? Segundo uma teoria rabínica, o “amém” é um acrônimo da expressão “El Melech Neeman” (ou EMN), que significa “Deus Rei Fiel”. Se é verdade ou não, o fato é que o “amém” é sempre uma afirmação solene de anuência, uma espécie de juramento em nome de Deus.
No Antigo Testamento, o “amém” aparece desde as escrituras mosaicas como uma fórmula solene pelo qual o povo aceitava a validade de uma maldição, aprovava uma mensagem como sendo divina ou participava do louvor a Deus. Curiosamente, o “amém” não era usado para encerrar orações!!! Mas para encerrar frases de louvor e adoração a Deus (doxologias)! Tóin!
No Novo Testamento, a palavra também aparece como encerramento de “doxologias” (frases de exaltação a Deus), mas também é usada de modo muito particular por Jesus e em relação a Jesus: primeiro, Jesus usa o “amém” no início das frases: “Amém, eu vos digo…”. É um uso tão estranho que as nossas Bíblias traduzem como “em verdade, vos digo…” (simples ou duplo). É um caso único na literatura mundial de alguém que usa o “amém” no início das frases! Segundo, o “Amém” é usado como um título para Jesus: “Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel…” (Ap 3.14).
Ressalva que não quer calar: se quiser ser fiel à tradição hebraico-cristã, tenha um pouco de cuidado em usar a palavra “amém”. Abandone o “uso coringa”, dizendo claramente “alôoo, pessoal”, “prestem atenção”, etc. ou qualquer coisa assim, mas reserve o “amém” para adoração a Deus ou para afirmações solenes de fé.

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Artigos escritos por Eliseu Pereira
Professor na Faculdade Batista do Paraná e na Faculdade Cristã de Curitiba
Estudou Teologia na instituição de ensino PUC PR
https://www.facebook.com/eliseugp



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