Por Eliseu Pereira
01) “Fulano é ‘MEU’ discípulo!”
A frase costuma ser usada por discípulos cristãos quando ensinam outros discípulos mais novos a “guardarem as palavras que Jesus ensinou”. Mas, (in)felizmente, na igreja de Jesus, o lugar de Mestre já está ocupado — e muito bem ocupado: é o próprio Cristo.
Ah, sim, é verdade: ele nos mandou fazer discípulos, mas fazer discípulos de Cristo não constitui a ninguém como “discipulador” e muito menos “mestre”.
As perguntas que não se calam:
— “Uai! O que eu sou então?”
— “Um discípulo!”
— “Ué! E a pessoa que estou discipulando, então, é o quê?”
— “Discípulo!”
— “Peraí… E a pessoa que está me discipulando?”
— “Acertou! Também é apenas um discípulo!”
É, eu sei… o discipulado de Jesus é diferente dos outros. Em outras religiões, os discípulos se tornam gurus e fundam suas próprias escolas. Mas com Jesus os discípulos permanecem sempre discípulos e jamais se tornam mestres…
Pelo contrário, permanecem todos eternos discípulos do Único Mestre.
02) “O Brasil (etc.) é do Senhor Jesus”.
Ora, não é não! É um silogismo simples:
Se o “mundo jaz (“fez sua cama”) no maligno” e o Brasil é parte do mundo, então segue-se que o Brasil jaz no maligno.
O reino de Deus não é feito de territórios, mas de pessoas! Não de coisas, mas de virtudes!
Pergunta que não quer calar: Onde foi que Jesus mandou alcançar territórios? Ele não mandou apenas amar pessoas?
03) Tocar no ungido!
“Não toquem no Ungido de Deus”.
Ora, a palavra ‘ungido’ é o particípio de “ungir”, que vem de “ungere” (latim), cujo particípio é “unctus”, de onde nós tiramos o verbo “untar”. Portanto, “ungir” é o mesmo que “untar”. Dizer “ungir com óleo” ou “ungir com unguento” é um pleonasmo como “subir para cima” ou “descer para baixo”… rsrsrsrs
No mundo hebreu, havia uma cerimônia de derramar óleo sobre a cabeça da pessoa designada por Deus para uma missão especial, como profeta, sacerdote, rei, etc. O óleo era um símbolo da presença do Espírito de Deus naquela pessoa.
Nesse sentido, a pessoa eleita por Deus era protegida.
Porém, desde o Pentecostes, o Espírito de Deus foi derramado sobre todos indistintamente, sem restrição de raça, classe, gênero ou sacerdócio. Portanto, a frase se tornou obsoleta, a menos que signifique “proteção de todos”.
Pergunta que não quer calar:
Todos são ungidos, mas uns são mais ungidos do que os outros?
04) “Realizar os sonhos de Deus… “
Ora, “sonho” é um fenômeno que ocorre na mente enquanto a pessoa está dormindo. Deus não dorme, portanto não sonha! rsrsrsrs… Aliás, Ele está bem acordado! O salmista disse que ele nem cochila!
Ah, sim, claro: “sonho” também significa “forte desejo”, geralmente um desejo que ainda não se pode realizar… e justamente por isso é “sonho”. Este também não é o caso de Deus, porque para Ele não há impossíveis! Tóin!
Pergunta que não quer calar:
Este Deus que sonha não está ficando humano demais?
Dá para crer apenas na “VONTADE” de Deus para sua vida?
05) “O melhor de Deus está por vir!”
Ora, o melhor de Deus é Deus mesmo!
E ele já veio a nós por meio de Cristo!
Pergunta que não quer calar:
Deus é suficiente… ou esperamos algo mais?
06) “Tomar posse”
Ora, “tomar posse” significa “exercer poder sobre algo” ou “ter sob poder”. Esta expressão não existe na Bíblia, a não ser no sentido literal, em relação à conquista da terra de Canaã pelos judeus.
No neo-jargão religioso, parece que ‘tomar posse’ significa ‘conquistar com uso de força’ ou ‘tomar à força’. O fato é que, ao “tomar posse”, a pessoa passa a se considerar detentora de um compromisso (“promessa”), cujo cumprimento tem o direito de exigir como legítimo possuidor.
Perguntas que não querem calar:
Se Deus FEZ uma promessa, é necessário tomá-la à força? Não basta crer?
Se Deus NÃO FEZ a promessa, é possível tomá-la à força? É necessário tomar posse do que já é seu? É possível exigir e tomar posse do que não lhe pertence?
07) Autoridade espiritual!
“Eu tenho autoridade espiritual sobre a sua vida!”
Ora, se a autoridade é “espiritual” não pode ser “sobre”.
E se é “sobre” não é espiritual. Simples assim!
Pergunta que não quer calar: Na igreja de Jesus, o maior não é o menor? O primeiro não é o último? A autoridade espiritual não vem do serviço sacrificial a favor do próximo?
08) Lei da semeadura.
“Semear uma oferta em dinheiro para colher bênção”… etc.
Ora, taí um baita abuso de uma figura de linguagem. O sentido literal da semente todo mundo sabe: planta laranja, nasce laranja. No sentido figurado, “sementes” são atitudes. A sabedoria popular também conhece essa “lei da semeadura”: “Quem planta vento, colhe tempestade!” O apóstolo Paulo também disse: “tudo que o homem semear, isso também colherá.”
Mas na linguagem neo-religiosa, surgiu uma interpretação particular, aplicada especificamente na área financeira para incentivar pessoas a doarem dinheiro, a fim de colher ‘n’ vezes mais… depende dos juros… ops… cof, cof,… da fé… rsrsrs. Ou seja, um tipo de investimento mágico, com retorno garantido…
Ora, a própria Bíblia mostra que a figura “plantar-colher” é um princípio geral, mas não uma lei: se não fosse assim, os primeiros apóstolos teriam sido todos ricos, mas foram todos pobres, bem como a maioria dos santos do mundo. O princípio geral do Evangelho a respeito de dinheiro pode ser resumido em boa administração e generosidade. Tudo isso por amor a Deus e ao próximo. E tem mais: a fundo perdido, porque é motivado pela graça e pelo amor.
Pergunta que não quer calar:
Ah, deixa pra lá… já deu para entender, né!
09) “Investir no reino de Deus” (“na igreja”, “no ministério”, “em pessoas”).
“Investir no reino de Deus” (“na igreja”, “no ministério”, “em pessoas”, etc).
“Investir” é uma palavrinha capciosa.
Etimologicamente é composta de “in”+“vestir”, “pôr roupas”, significando “pôr as roupas próprias de um cargo”, como um manto, pálio, toga, capa. Por isso se diz “investir alguém no cargo” no sentido de “dar posse” ou ‘investir de responsabilidade”.
Outro sentido de “investir” é “circundar”, assim como a roupa circunda o corpo. Daí vem o sentido de “investir contra” uma cidade ou “acometer alguém”. Bem, há ainda o sentido tardio de “investir dinheiro para auferir lucro”, que é datado desde as origens do capitalismo (não me pergunte porquê… rsrsrs).
Bom, desconfio que o uso religioso de “investir” é justamente a acepção financeira, ou seja, “aplicar capital para auferir lucro” ou, numa versão mais ‘light’, dedicar tempo, talentos, etc. para obter resultados. O que importa é ter o lucro ou a vantagem em mente (mesmo que seja “espirituau-au”… rsrsrs)
Ora, a tradição cristã desconhece por completo a ideia financeira de “investir”. Pelo contrário, tudo que se fala é “dar”, “doar”, “ofertar”, “perder”, “gastar”, tudo liberalmente e a fundo perdido, sem esperar nada em troca — ou seja, o exato oposto de “investir”.
Pergunta que não quer calar: Quer fazer negócios com Deus? Tem certeza de quer acertar contas com Ele? Ou prefere “de graça recebestes, de graça dai”?
10) Cobertura espiritual...
“Não posso sair/fazer (etc.)” porque estou sob a cobertura espiritual de fulano”.
OU “Tenho de fazer… porque estou sob a cobertura espiritual de fulano”.
Ora, “cobertura” é o quê? Cobertor, telhado, escudo, esconderijo?
Cobertura serve para quê? Para proteger? Proteger do quê? De quem?
Gozado, a Bíblia não diz nada sobre essa função, ministério ou dom — o de ser “telhado” para alguém. O que Jesus disse é isso: “A ninguém na terra chamem ‘pai’, porque vocês só têm um Pai, aquele que está nos céus. Tampouco vocês devem ser chamados ‘chefes’, porquanto vocês têm um só Chefe, o Cristo” (Mt 23:9-11).
Por isso, a pergunta que não quer calar: É liberdade demais ou dá para encarar? Dá para sair de debaixo de alguém e assumir seu papel no mundo ou tá difícil?
11) “Deus vai ‘usar’ você” ou “Deus tem me ‘usado’”…
“Deus vai ‘usar’ você” ou “Deus tem me ‘usado’”… etc.
Isso é um neologismo? É, ‘podes’ crer…
Eu comecei a estranhar essa conjugação, afinal pega muito mal dizer que uma pessoa “usa” a outra ou que pessoas têm alguma “utilidade” ou mantém relacionamentos “utilitários” (ugh!). Portanto, como Deus poderia “usar” alguém? Mesmo que fosse pelo melhor dos motivos, a construção “usar pessoas” dói nos ouvidos e na alma…
Pensando nisso, fui pesquisar nas Escrituras para ver se havia algum caso em que se diz que Deus “usou” pessoas e, caso houvesse feito isso, qual o sentido? Para minha surpresa (e alívio… ufa… rsrsrsr), descobri que tal fala não existe! Desde o início da história, Deus chamou pessoas para andarem com Ele, para se unirem aos seus planos…. mas jamais se diz que Deus usou (muito menos, abusou de) alguém.
Pergunta que não quer calar: Se o Criador, que, em tese, teria ‘direito’ de usar suas criaturas, não o faz, como as criaturas podem sequer pensar em usar seus iguais, seus pares?
12) “Profetizar”
“Eu profetizo bênçãos sobre sua vida”.
Ora, ‘profetizar’ significa ‘dizer antes de acontecer’ ou ‘proclamar algo em nome de Deus”. Mas, a bênção de Deus já está disponível, portanto não precisa ser profetizada.
Pergunta que não quer calar:
Esse tipo de profecia é profecia mesmo ou mero desejo pessoal… pensamento positivo?
13) “Liberar”
“Eu libero uma palavra sobre sua vida!”
Ora, ‘liberar’ significa ‘libertar’, ‘soltar’, ‘desprender’.
Pergunta que não quer calar:
A “palavra” tava presa?
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